O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na tarde desta quinta-feira (16). O oncologista Nelson Teich será o novo chefe do Ministério da Saúde.
Em um breve pronunciamento, o agora ex-ministro elogiou a equipe de trabalho do Ministério da Saúde e não entrou em detalhes da demissão e nem comentou as discordâncias com o presidente que o afastaram do cargo.
“Eu deixo esse ministério, mas sei que deixo aqui a melhor equipe. Trabalhem para o próximo ministro, como trabalharam comigo, não meçam esforços. Alertem, conversem e dialoguem”, afirmou o ministro, que confirmou que ajudará na transição de comando na pasta.
Antes de sair, Mandetta reforçou o discurso técnico, que o distanciou de Bolsonaro, no comando do ministério. “Nada tem significado que não seja uma defesa intransigente da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nos três pilares, porque com esses pilares vocês conquistaram tudo. Apostem todas as suas energias na ciência, não tenham uma visão única, não pensem dentro da caixinha. Ciência é a luz.”
Por fim, o ex-ministro elogiou o trabalho dos jornalistas e afirmou que “a imprensa sempre trabalhou com a verdade”. “Sem vocês, com certeza, o país não teria chegado nessa primeira etapa, em que conseguimos deixar que a primeira curva não nos atingisse. Vocês foram fundamentais.”
A demissão
A saída foi confirmada pelo próprio ministro, por meio da conta oficial dele no Twitter, às 16h17.
“Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar”, disse Mandetta.
A demissão vem depois de uma série de rusgas públicas entre Bolsonaro e Mandetta. O duelo começou logo que a pandemia do coronavírus chegou ao país – enquanto o ministro manteve postura mais ponderada, replicando recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o presidente decidiu seguir interesses de seu núcleo político e indicar regras próprias (muitas vezes contrárias ao ministério) para a população.
Desde o desalinhamento, o presidente ameaçou demitir o ministro ao menos duas vezes. Também passou a criticá-lo publicamente – disse que Mandetta tinha que ser mais humilde e jogou indiretas, afirmando que “algo tinha subido à cabeça” de membros do governo e que “vai chegar a hora deles”.
Mandetta reagiu timidamente, declarando que só sairia da pasta se fosse mandado embora porque “médico não abandona o paciente jamais” e que estava ali para trabalhar, não para atender a interesses políticos de quem quer que fosse.
O ministro tentou demonstrar alinhamento ao presidente após as primeiras ameaças de demissão. “A todos aqueles que estão com os ânimos mais exaltados, [quero] deixar claro: aqui está tudo bem. Nós estamos olhando pelo para-brisa e, nessa estrada, a gente vê que vai ter dias muito duros, muito difíceis. E quem comanda esse time é o presidente Jair Messias Bolsonaro”, declarou Mandetta em coletiva na última quarta-feira (8)
Outro ponto que pode ter influenciado a decisão de Bolsonaro foi a ameaça de prestígio público que Mandetta representava. Segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha na sexta-feira (3), 76% dos entrevistados apoiavam o trabalho do Ministério da Saúde durante a pandemia, enquanto 39% reprovavam a postura do presidente.
Quem é Mandetta?
Médico ortopedista e deputado federal licenciado, Mandetta faz parte de uma família tradicional de políticos do Mato Grosso, defensora massiva dos interesses do agronegócio.
Embora nos últimos dias tenha sustentado a imagem de “ministro técnico”, graças à comparação com ministros de posturas ultraideológicas, Mandetta sempre defendeu interesses conservadores.
O agora ex-ministro é direitista filiado ao DEM, maçom, antiabortista, a favor do uso de maconha exclusivo para fins medicinais e inimigo número um do programa Mais Médicos. Além disso, foi a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff enquanto parlamentar.
Já foi ex-presidente da Unimed em Campo Grande, defendendo também interesses de planos de saúde no Congresso, e médico militar tenente no Hospital do Geral do Exército.
O primeiro cargo que assumiu na política foi o de secretário da Saúde de Campo Grande, a convite do primo, o então prefeito e hoje senador Nelsinho Trad (PSD-MS). No cargo municipal, Mandetta foi investigado por suspeita de fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois. O Ministério Público, no entanto, nunca apresentou denúncia formal à Justiça.
Enquanto deputado, aproximou-se do então deputado Jair Bolsonaro com alguns conselhos sobre saúde. Ganhou sua simpatia e, quando já havia desistido da política – não concorreu à reeleição para a Câmara – recebeu o convite para assumir a Saúde.
Desde que assumiu a pasta, ele atacou populações indígenas, por exemplo, sugerindo a extinção da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), encerrou contratos com médicos cubanos (que deve que recontratar na crise do coronavírus) e cogitou cobrar por atendimentos no SUS.
Fonte: Brasil de fato