Em uma vila da ilha de Sulawesi, na Indonésia, um grupo étnico chamado Toraja preserva um costume de exumação diferente do que ocorre no Brasil. Enquanto os mortos são enterrados ou cremados por aqui, lá, os entes queridos são retirados dos túmulos a cada dois ou três anos para que suas roupas sejam cuidadosamente trocadas e o caixão passe por um minucioso processo de limpeza.
A cerimônia é conhecida como “manene” e, apesar de parecer macabra, é tratada com leveza por grande parte da população local. Para muitas famílias, inclusive, este é um momento de descontração — um clima que passou a ser compartilhado entre os turistas curiosos que passam pela ilha.
Na cultura Toraja, que mistura a crença no cristianismo com práticas animistas, a prática é um sinal de respeito e os nativos acreditam que, com o ritual, o povo terá boas colheitas. Depois da exumação, por exemplo, muitas pessoas presenteiam os entes que já partiram com coisas que eles gostavam, como alimentos e bebidas. Em alguns casos, até mesmo cigarros acesos são colocados na boca dos corpos sem vida.
Além disso, outro costume é o de tirar fotos ao lado dos falecidos. Para a comunidade, este é o momento de se reunir com familiares queridos, que são devolvidos aos túmulos ao final da cerimônia. Os caixões têm, ainda, estátuas (chamadas de “tau tau”) que representam os mortos. Elas são postas juntas e com as faces viradas para as vias públicas, como se cuidassem dos vivos que transitam por ali — um símbolo de proteção.
A aproximação com os mortos também pode ocorrer em outros momentos. Na comunidade toraja, é comum que as pessoas mantenham o familiar falecido dentro de casa — por semanas, meses e até anos — antes de ele ser sepultado. Os corpos são preservados com formol e vestido com o que eram as roupas favoritas.
Com a crença de que o espírito permanece junto do corpo após a morte, até que todos os ritos funerários e o enterro sejam realizados, muitos ainda conversam com os defuntos como se eles tivessem vida.
Via Extra.globo