Quando subiu no palco pela primeira vez, em outubro deste ano, durante a primeira seletiva do Concurso Garota Base Comunitária de Segurança (BCS), Lorena Lopes de Oliveira, 21 anos, nem imaginava que ali novas oportunidades surgiriam para sua vida. Moradora do bairro do Calabar, em Salvador, a jovem, aluna do projeto Meraki Models, oferecido pela BCS da localidade, ganhou primeiro lugar na edição 2019, realizada na última terça-feira (10).
Para atuar como modelo, sonho que lhe acompanha desde os cinco anos, Lorena, filha única, diz ter passado por diversas barreiras. Desde os inúmeros ‘nãos’, até os olhares e julgamentos preconceituosos vivenciados em ambientes de seleções. O pontapé inicial para a realização deste objetivo ocorreu há aproximadamente seis meses, quando decidiu se inscrever no curso da BCS do Calabar.
Com a participação no evento, a estudante do 5º semestre do curso de enfermagem, além ganhar como prêmio uma bolsa de estudos EAD de Publicidade e Propaganda, já recebeu propostas de quatro empresas que trabalham com books fotográficos. “Os policiais da base estão me ajudando a pesquisar sobre essas empresas para saber se realmente são de confiança. Mas estou muito feliz em saber que depois de tanto tempo estou começando a realizar mais um sonho”.
Ela conta que sempre quis ser modelo, mas as oportunidades não surgiam. Há seis meses decidiu matricular-se no curso da base. Durante esse período de aulas e com o incentivo da capitã Aline e da professora Jucimara, resolveu participar do concurso. “Foi aí que tudo começou a mudar. As aulas me ajudaram a perder a timidez e, finalmente, me senti encorajada para concorrer”, lembrou.
Sobre os principais obstáculos enfrentados durante a trajetória ela cita o preconceito como o principal empecilho. Mas enfatiza que sempre teve a presença do empoderamento materno, fator esse que colaborou para ser quem é hoje. A segurança nas palavras mostram como a estudante é determinada, emponderada, corajosa, certa do que deseja para vida e, acima de tudo, orgulhosa do que é e, principalmente, de suas origens.
“Eu chegava em locais e eu via pessoas me olhando como se aquele lugar também não fosse para mim: negra, cabelo crespo. Por consequência disso, alisei meu cabelo. Depois optei colocar tranças para fazer transição e, com incentivo dos policiais da base, decidi voltar a usá-lo como ele é: crespo, mas desta vez curtinho. No início fiquei com medo do novo corte, mas foram tantas pessoas me elogiando aqui na comunidade que isso me deixou tão motivada”.
Toda a força para lutar contra os entraves da vida, segundo ela, vem da mãe, que sempre ensinou a ser forte, a enfrentar o preconceito de cabeça erguida, de frente. “E isso é tudo, porque eu sei que nem todas garotas têm a oportunidade de ter essa pessoa que eu tenho em casa”, completou.
As passarelas, os estúdios fotográficos e toda a área da moda são encantos declarados por Lorena, mas o amor e a vocação pela enfermagem, curso escolhido por ter a mãe como inspiração, faz com que ela veja e tenha os estudos como principal prioridade.
Segundo Lorena, ela continuará focada na faculdade, independente da carreira como modelo alavancar ou não. Porque desde criança presenciou a mãe cuidar de pessoas doentes no ambiente familiar, e isso fez com que surgisse o amor por essa profissão.
Sobre as expectativas em relação as novas oportunidades, a jovem diz que fará delas uma forma de ajudar a família. “Tudo que mais quero é dar uma vida melhor para eles. Minha mãe merece muito. Vou lutar por isso, seja como modelo ou não
O corpo esbelto sempre foi uma das suas principais características físicas. Conforme dito pela modelo de 1,80 cm de altura, hambúrguer, refrigerante e tantos outros lanches calóricos sempre fizeram parte da sua vida, tanto na infância, quanto na adolescência. Entretanto, com a decisão em participar do concurso, o cardápio precisou mudar e ela, além de abdicar desses lanches, teve que incluir frutas, legumes, verduras e atividades físicas na rotina.
Uma das incentivadoras da modelo, a comandante da BCS do Calabar, capitã Aline Muniz, diz se sentir orgulhosa por perceber que a unidade tem sido intermediária na realização de sonhos. “Esse é mais um caso que nos mostra o quanto nosso trabalho é um diferencial na vida dessas pessoas. Cada vez que percebemos os nossos esforços surtindo efeito, a gente se emociona e se fortalece para buscar novos parceiros e idealizar novos projetos”, finalizou.
VIA SSP”. Fonte: Ascom | Silvânia Nascimento