Para proporcionar cuidado, orientação e uma palavra de carinho para as mães de filhos com alguma deficiência ou transtorno, o programa Colo pra Mãe nasceu em 2021, na Escola Municipal Novo Horizonte, e foi abraçado pela Prefeitura de Salvador em 2023. A ação vem transformando a vida de várias mulheres que passaram a participar da iniciativa.
O programa funciona como uma rede de apoio, na qual uma mãe pode contar com a outra para tirar dúvidas e receber o suporte de que muitas vezes necessita. Além disso, mensalmente o Colo pra Mãe promove um encontro temático entre as mães para que possam participar de palestras, lanches, atividades físicas, de saúde, beleza e bem-estar. Quem conhece a ação se encanta com a relação de carinho que cada mãe apresenta.
A psicopedagoga, gestora escolar e idealizadora do programa, Cristiane Vieira, conta que o Colo pra Mãe nasceu em 2021 após o atendimento de uma mãe que mexeu muito com ela. “Naquele atendimento, eu percebi o quanto eu não as percebia, o quanto elas passavam invisibilizadas. Elas empurram a cadeira, seguram na mão, mas não estavam sendo vistas. Eu decidi então que não seria mais assim”, lembra.
Transformação – “No primeiro dia que eu cheguei aqui, Cris me recebeu com uma massagem nas mãos, me deu um abraço e disse: ‘você é especial’. Eu nunca vou me esquecer desse momento. Cada dia que a gente vem para o projeto tem uma novidade. A gente dança sem perceber que está dançando, faz atividade e conversa muito. Às vezes vêm profissionais aqui que tiram nossas dúvidas e nos incentivam. Então cada mês é um recomeço”, contou Raquel Dias, após passar por uma sessão de massoterapia pelo programa. Ela é mãe de Vinícius, de 17 anos, diagnosticado com autismo.
Para Flaviana da Cruz, 44 anos, o programa representa tudo. “O projeto me transformou, me mudou e fez enxergar a pessoa que sou hoje. Qualquer pessoa que chegar aqui vai passar por uma grande transformação”, afirma. A filha dela, Micaele, de 13 anos, tem autismo e paralisia cerebral.
Flaviana estudou na mesma escola da filha: a Municipal Novo Horizonte, no bairro homônimo, e foi a partir do Colo para Mãe que ela aprendeu muito sobre o autismo e sobre a paralisia cerebral e pôde cuidar melhor da adolescente. “Quando ela chegou na escola, ela ficava paradinha. Hoje ela já mexe a mão, gesticula, quando você fala com ela, ela tenta responder com sons. Antes ela se alimentava através de sonda e hoje já se alimenta pela boca, então ela já evoluiu bastante”, diz.
Acompanhamento psicológico – Mãe de dois filhos com deficiência, dona de casa e trabalhadora autônoma, Cíntia Lemos, 43, hoje é conhecida como embaixadora do programa e tem ido a outras escolas deixar o seu relato e incentivar outras mães a participar. “Eu chamo o programa de meu encontro de milhões. Quando eu cheguei aqui eu estava com uma tristeza muito grande. Aqui eu consegui me concretizar na maternidade atípica, aprendi a lidar com o não, recebi acolhimento, amor, carinho e orientação. Assim, nós vamos seguindo, trocando o que temos de melhor uma com a outra e nos ajudando. Hoje eu também estou tendo acompanhamento com psicóloga e me sentindo renovada”.
Ângela Batista, 41, mãe de uma filha autista, também acredita que todo o cuidado reflete em melhorias na relação com os filhos. “Esse projeto surge como uma bênção, porque a gente vive para os nossos filhos e nunca tem tempo para gente. Aqui se tornou um momento para desabafar, para conversar, para chorar, para rir. A gente entra estressada e sai outra. Além disso, melhora a nossa autoestima e consequentemente a relação com os nossos filhos. A minha filha estuda aqui e eu digo sempre que essa escola municipal é uma unidade de referência. Aqui a gente encontra tanto o apoio do Auxiliar de Desenvolvimento Infantil (ADI), que acompanha os nossos filhos, como o da direção”.
Dia das Mães – Atualmente, 34 mulheres participam do Colo pra Mãe na Escola Municipal Novo Horizonte e fazem questão de comparecer aos encontros. Este mês, o Colo pra Mãe teve uma edição especial no local de origem em celebração do Dia das Mães, na última quarta-feira (8), e contou com serviços como escova e prancha, maquiagem, design de sobrancelha, massoterapia e aferição de glicemia e da pressão.
Desde o ano passado, o projeto foi levado para a rede municipal e tornou-se um programa. Este ano, a rede de apoio está em 120 escolas, distribuídas em 31 polos, e a intenção é expandir esse atendimento para três mil mães em toda a rede. Atualmente, 7,3 mil alunos da rede municipal estão declarados com algum tipo de deficiência.
“Essa frequência delas nós vamos conquistando aos poucos, porque muitas estão em luto, muitas se escondem ou estão em um quadro de depressão e aos poucos elas vão aparecendo. Quando elas vêm uma vez, não deixam mais de vir. Aqui a gente segura uma na mão da outra e ajuda de verdade. É uma grande rede de apoio e eu estou muito feliz que a Prefeitura tenha tido essa sensibilidade de levar para a rede essa rede de apoio e de amor”, conta Cristiane.
Ela explica que, com a rede de apoio, é possível resolver problemas que incomodavam bastante, com dicas e orientações simples. “Um medicamento utilizado por uma criança com autismo, por exemplo, uma mãe ajuda a outra indicando onde ter acesso, onde comprar. Essa ação vai refletir em uma criança medicada e regulada na escola. Há mães que indicam onde conseguir o diagnóstico. Quando o aluno entra na escola não vira uma ilha, é tudo muito conectado. Há um provérbio africano que eu gosto muito que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, afirma.
Fortalecer vínculos – A Escola Municipal Novo Horizonte conta hoje com 708 alunos matriculados nos três turnos, matutino, vespertino e noturno, entre os quais 30 têm alguma deficiência declarada. A diretora da instituição, Geíza Contreiras, avalia o programa como uma iniciativa transformadora e fortalecedora de vínculos entre as famílias dos alunos e a instituição.
“Aqui são atendidas mães que sofrem com a falta de apoio, com o preconceito, de diversas formas e que precisam desse acolhimento, orientação e desse abraço, de serem amparadas para lidar com as suas próprias questões. O programa não olha só para a criança, mas para a questão da mãe e da cuidadora, seja ela avó, responsável legal, então é importante que a iniciativa tenha um olhar sensível para essas pessoas”, ressalta a diretora.
“As mães e responsáveis têm orientação em vários momentos do programa, com psicólogos, com terapeutas e com um leque de profissionais que podem ajudar a melhorar esse entendimento em relação aos seus filhos, pois são crianças com diferentes tipos de necessidades. Portanto, acho que isso melhora também o desempenho das crianças e a gente pode ter o reflexo disso aqui na escola”, acrescenta.
Reportagem: Priscila Machado/Secom PMS