Salvador foi um dos destinos escolhidos pelo velejador Fabian Fernandez, 53 anos, durante a importante missão de dar a volta ao mundo no veleiro Destiny 12. Ele aportou na capital baiana no final de março, após uma longa viagem, que teve como ponto de partida a Malásia, terra natal, no dia 6 de fevereiro de 2023. Durante a jornada, passou pelas Ilhas Maldivas (Oceano Índico), Tanzânia, África do Sul (África) e pela ilha de Santa Helena (Oceano Atlântico), partindo em seguida para Salvador, sendo recepcionado pelo SAC Náutico no momento da chegada.
De acordo com Fernandez, uma das principais motivações a parar em Salvador foi a facilidade dos procedimentos para entrada e permanência na cidade. “Aqui no SAC Náutico, é possível vir e fazer tudo. A Receita Federal e a Polícia estão em um só lugar. O que o Município fez com a criação do SAC Náutico é muito bom, facilita muito a vida do capitão estrangeiro. Eu já sabia e escolhi Salvador por isso. Além disso, conseguimos nos comunicar com os atendentes, com a Polícia, porque todos aqui do SAC falam inglês. Eu não falo português, então a comunicação em inglês é um importante facilitador”.
Ele lembrou que a maioria dos barcos da África do Sul vai para o Caribe e que iniciativas como a do SAC devem incentivar mais pessoas a parar no Brasil. “É muito fácil viajar para o Brasil, por causa da direção do vento, mas muita gente se preocupava com a burocracia. O SAC Náutico tornou tudo mais fácil”, pontuou.
Em Salvador, Fernandez também pôde decidir se seguiria pelo Sul ou pelo Norte. Escolha realizada, o capitão pretende seguir em breve para Cabedelo (PB) e Natal (RN), além da Guiana Francesa, Trindade e Tobago, Aruba e Panamá, pois pretende passar para o Oceano Pacífico ainda este ano. A expectativa do navegador é retornar à Malásia em 2027.
O agente marítimo e coordenador do SAC Náutico, Ramon Navarro, destaca que Salvador vem sendo bem avaliada como cidade de entrada no Brasil para as embarcações. Ele explicou que os serviços procurados por Fabian Fernandez no equipamento gerido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (Semdec) foram os trâmites de entrada no país e o regime especial de admissão temporária com ausência do comandante. Este último permite que o barco permaneça atracado por até dois anos, enquanto o velejador viaja para outros países saindo por via aérea.
Silvio Ramos, fundador do BRally, que é um evento de navegação em companhia (Sailling in Company) e promove a inclusão da costa brasileira nas rotas do circum-navegador, conta que fez uma pesquisa das embarcações estrangeiras que aportaram na costa brasileira de janeiro a abril e constatou que Salvador recebeu mais embarcações internacionais que outras cidades nesse período, a exemplo de Angra dos Reis (RJ), Cabedelo (PB), Fernando de Noronha (PE), Florianópolis (SC), Soure (PA), Recife (PE) e Santos (SP).
“Temos promovido Salvador como entrada por ser a mais fácil do Brasil. Isso economiza no tempo que os velejadores têm disponível, assim como nos custos com a papelada, por não terem que ir a vários lugares, pois em Salvador tudo é resolvido no mesmo lugar. Outro ponto positivo é que eles são atendidos em inglês”, opinou.
Propósito – Fernandez ficou conhecido em vários países, por onde concedeu entrevistas e palestras, por ter adotado como propósito de vida ser o quarto malaio a velejar ao redor do mundo e o primeiro a contornar o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. A expedição abrange 50 mil milhas náuticas, o equivalente a 92.600 quilômetros e 30 países.
Ele estava no auge da carreira na indústria de plantações e tinha acabado de receber uma promoção quando decidiu colocar em prática o desejo da circum-navegação. Uma das motivações para a mudança radical de vida foi um incidente familiar em 2017: o falecimento da cunhada, de apenas 42 anos, que o fez refletir sobre a fragilidade da vida e experimentar o que realmente a vida tinha a lhe oferecer, mesmo que essa decisão parecesse absurdo para as outras pessoas.
Engenheiro naval de formação, Fernandez sempre teve uma forte conexão com o oceano. Para ele, a navegação é um momento espiritual, momento de sentar-se com os pensamentos e deixar a mente navegar. O mar o fez perceber o quão pequeno é o ser humano no mundo.
Reportagem: Ana Virgínia Vilalva e Priscila Machado/Secom PMS