Há um ano foi inaugurado, em Salvador, o Centro Estadual de Referência às Pessoas com Doença Falciforme – Rilza Valentim (CERPDF), um modelo para o atendimento e o tratamento das enfermidades hematológicas benignas no Brasil e em outros países, como Angola. Em 2023, foram realizados 117.166 atendimentos e procedimentos no CERPDF. Com o Centro de Referência, administrado pela Fundação Hemoba, houve a ampliação e qualificação do tratamento para pessoas com doenças hematológicas benignas na Bahia, principalmente, da doença falciforme (DF).
Para celebrar o aniversário de funcionamento do Centro de Referência, será realizada uma solenidade na quarta-feira (13), a partir das 9h, com as presenças da secretária de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Roberta Santana, e a Percussão da Escola do Olodum. Na oportunidade, a diretora do CERPDF, Larissa Rocha, e o diretor geral da Hemoba, Luiz Catto, farão um balanço do primeiro ano de gestão e apresentarão as perspectivas para a descentralização do atendimento para o interior do estado. À noite, às 18h, acontecerá a 9ª edição da live Café com Saúde transmitida pelo canal do Hemoba no Youtube, com o tema “Um ano de CERPDF: desafios e perspectivas”, mediada pela hematologista Jamile Nicanor e com as participações da diretora, Larissa Rocha, e da coordenadora de enfermagem, Maria Claudia. O Café com Saúde foi criado com o objetivo dar visibilidade e debater temas de relevância para pacientes com doença falciforme e profissionais de saúde.
O CERPDF realiza atendimento ambulatorial nas especialidades de hematologia, gastroenterologia, nutrição, psicologia, odontologia, fisioterapia, serviço social e assistência farmacêutica. Conta também com uma agência transfusional e oferece ainda doppler transcraniano, fundamental para diagnóstico precoce de alterações de vasos cerebrais relacionadas com o desenvolvimento de AVC. A equipe multidisciplinar, composta por 141 profissionais, atende pacientes, principalmente, oriundos de cidades do interior do estado (cerca de 51%). Em pesquisa de satisfação realizada pelo Centro em dezembro do ano passado, respondida por mais de mil usuários, entre a 80% a 90% demonstraram satisfação com os atendimentos médico, farmacêutico e de enfermagem, limpeza do ambiente e marcação de consultas.
Descentralização do atendimento
Para o futuro, estão previstos projetos de descentralização e regionalização do atendimento às pessoas com doenças hematológicas benignas, principalmente, a doença falciforme. Entre eles, está o Hemocentro Regional de Vitória da Conquista, programado para ser entregue no segundo semestre deste ano, com investimento de R$ 4 milhões. Na unidade, haverá serviços de transfusão ambulatorial, atendimento médico e de enfermagem para pacientes com DF, farmácia para dispensação de medicamentos, assistência social para encaminhamentos de demandas dos pacientes e produção de plaquetas e crio para suporte transfusional dos pacientes.
Outro projeto é a ampliação do Programa de Doadores Fenotipados, que visa descentralizar a realização desses testes para os laboratórios das unidades da Hemoba em mais sete municípios do interior do estado e ampliar o número de doadores cadastrados. Fenotipar o sangue de doadores regulares significa identificar mais características além dos conhecidos subgrupos ABO e fator Rh, que formam o chamado tipo sanguíneo, como AB negativo ou O positivo, por exemplo. A identificação desses doadores é fundamental para assistência de pacientes que necessitam de fenótipos incomuns e raros e garante mais segurança às transfusões para pacientes com doença falciforme e outras doenças hematológicas. Atualmente, há a fenotipagem de 400 novos doadores mensalmente e o objetivo é ampliar para 100 doadores ao mês em abril, na capital e nas unidades de Feira de Santana, Barreiras, Santo Antonio de Jesus, Vitória da Conquista, Teixeira de Freitas, Juazeiro e Jequié.
Doença falciforme na Bahia
A Hemoba é referência no atendimento a pacientes com doença falciforme (DF), acompanhando cerca de cinco mil pessoas na capital e no interior, além de ser responsável pela assistência transfusional e farmacêutica, incluindo a dispensação de medicamentos de alto custo. A Bahia é o estado que apresenta a maior incidência de DF no país, uma vez que a população possui significativa miscigenação racial, com predomínio da raça negra. Caracteriza-se por uma alteração nos glóbulos vermelhos que adquirem o aspecto de uma foice (falciforme), dificultando a passagem do sangue pelos vasos sanguíneos. No Brasil, estima-se o nascimento de 700 a 1.000 casos novos de DF/ano. Na Bahia, tem incidência estimada da doença em 1 caso para cada 650 nascimentos.
O CERPDF, em colaboração com a Sesab, está organizando um censo para mapear o número de pessoas afetadas pela doença falciforme na Bahia, quantos estão em tratamento e quais regiões de saúde com maior prevalência. A iniciativa visa aprimorar o entendimento sobre a enfermidade no estado e, assim, possibilitar o desenvolvimento de políticas públicas mais efetivas. Este projeto complementa a lista de notificação compulsória de casos de doença falciforme definida pelo Ministério da Saúde em novembro de 2023 e já antecipada pela Superintendência de Proteção e Vigilância em Saúde (Suvisa) da SESAB, com a colaboração do Centro de Referência. Os dados coletados são um importante instrumento para o planejamento de saúde, usados para definir as prioridades de intervenção pública e avaliar os impactos dessas intervenções.
Fonte: Ascom/Hemoba